sábado, 12 de setembro de 2015

Sem possibilidades do amor.

   


        O vento frio entrou por debaixo do cobertor, como quem procura desesperadamente um abraço pra se aquecer. A manhã havia chegado e ela trazia o brilho de um dia lindo e maravilhoso que eu não queria ver. Os tons de cinza deram uma trégua, eles não estariam pra mim naquele momento, assim como eu não me tinha para aquele dia, ninguém me teria.
     Aquele abraço frio, faria me lembrar as noites de chuva, quando por descuido, ou de propósito, deixava algumas gotas molharem o corpo, sem modéstia, deixando a alma encharcada de ausências, espaços, compassos, existência. Ou somente lavando-a de toda amargura dos cafés requentados que tomei esperando que aparecesse, quem sabe ao menos pra dizer que não poderia ficar. Ouvir um 'tenho que ir' machuca, e só percebi isso agora. Meu Deus, que não seja tarde demais.
       As lembranças dos lábios que se tocam sem prévio aviso, da presença que necessita se ausentar, o vento gelado que novamente chega pra ficar, agora na procura da solidão como companhia. É que o sentimento ocupa muito mais do que a memória. Como saber onde a saudade se localiza se nem mesmo os olhos se encontram mais. Onde fica guardada a vontade do sempre? Dentro do pensamento que precisa ser esquecido? Num lugar onde não há possibilidades, nunca serão contadas, as histórias de depois de amanhã. 
       O vento frio chega dessa vez para despertar. Sair do torpor. Os pensamentos invadem agora procurando a saída, não cabem mais no espaço de um talvez, ou de um seria. 
       Precisa acabar, como dói.
       Precisa acabar.
       Pensamentos de toda uma noite sem dormir... 


Madrugada - 12/09/2015 - 02:27 hs


Elica Cardoso
     
       
     

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