segunda-feira, 25 de maio de 2015

O trem acaba de chegar

        

O vento atrás de mim diz que é hora de partir, seu trem acaba de chegar, embarque nele e não olhe pra trás, não olhe para mim. Meus olhos não podem ver, meu corpo não pode entender, eu jamais o deixaria, mas ele não pôde ficar. O trem partiu, e com ele toda certeza do medo. Mas e se eu for o seu lar? e se eu for o lugar para onde deve ir? 
        Está indo para o lugar errado, os anjos dizem - volte! E eu lhe peço, ouça a voz dos anjos, somente esta noite. Lhe deixarei em paz, mas somente esta noite ouça a voz dos anjos, eles dizem - volte!
        As ruas lembram-me os seus passos, sempre tão distraídos. Sinto que devo ir. O meu trem acabou de chegar, e eu devo embarcar, não posso olhar pra trás, não posso olhar para você. Eu sei que seu corpo não pode aceitar, sua alma não se conforma com haver me perdido. E eu não sei se estou no caminho certo, e se você for o meu lar? e se você for o lugar para onde eu deva fugir?
         Os anjos dizem - Volte! E te ouço pedindo para que eu ouça a sua voz, somente esta noite eu paro pra ouvir a voz dos anjos que dizem - Volte. Encontrarás o caminho no vento que sopra atrás de ti. Volte!
         O trem acaba de chegar, e o vento atrás de mim diz que é hora de voltar para casa. Não embarque, volte para casa. Os anjos dizem...



Elica Cardoso

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Rimas descompassadas, meu coração

         

         Quis falar as palavras que só existem em meu coração, mas a boca não se abre, por isso a necessidade de escrever. 
         A vida como o amargo na boca, remédio que não cura, tão pura que quase me deixa louca. Tragam -me a doçura, doçura que soa rouca, aos ouvidos que não querem entender, nada podem fazer, com a dor que não se explica, não há onde chegar, soluços, aflita. O frio que envolve a pele, arrepio, que assusta persegue, sutil, olhando com olhos gigantes, sombrios, à penumbra da noite pensante, pensando porque ainda calada, a boca continua fechada, engole a seco, não reclama, não murmura, nada. Passo, não passo onde esteja, não beijo quem me beija, não aceito o outrora, que se perdeu com o tempo lá fora, aflora, a alma que chora, namora, o que não se toca. As mãos que caminham lado a lado e não se conhecem, porque? me diga eu quero saber o que acontece, com o sol que se põe e depois amanhece, sem que eu me despeça ao fazer uma prece, vá e não volte, não vou chorar a perda do que me deste. Serei feliz, um dia feliz, ta demorando tanto, que nem sei se a quis, de verdade em minha vida, vou passando sem intriga, aqui não é meu lugar, vou passando até um dia encontrar, a forma da boca abrir e poder te falar, que no meu coração as palavras que existem só sabem te amar.

Elica Cardoso
         
         

sábado, 9 de maio de 2015

Tenho medo

    


Dia ruim, e não é só o tempo nublado lá fora que me mostra assim, o peso das nuvens carregadas do céu se juntaram as que a alguns dias residem o meu olhar.
    Sensação de que não ha mais o que se fazer, o tempo desmorona lá fora, e a minha vida tenta juntar os pedaços desse coração que já não é mais amor. Congelou-se.
    O tempo está correndo e eu espero o dia do último trem passar, me levar. Quem sabe tudo melhore, quem sabe eu consiga tudo o que ficou pelo caminho de volta. Quem sabe a porta ainda não esteja trancada pelo lado de fora, e eu ainda possa sair, me libertar dessas nuvens cinzas que me cercam.
    Imaginei de verdade que iria viver algo diferente, que me fizesse renascer.
    Em que parte do caminho soltei sua mão vida? Não se distancie, eu tenho medo. Fique comigo, eu tenho medo. Me abrace, eu tenho medo.
   A noite ta vindo, e ela trás o escuro e a solidão.
Tenho medo.


Elica Cardoso